Desde o
início dos seus trabalhos que os membros da Comissão compreenderam
que seria indispensável, para enfrentar os desafios do
próximo século, assinalar novos objetivos à educação e, portanto, mudar a
idéia que se tem da sua utilidade. Uma nova concepção
ampliada
de educação devia fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar
e fortalecer o seu potencial criativo — revelar o tesouro
escondido em cada um de nós. Isto supõe que se ultrapasse a visão
puramente instrumental da educação, considerada como a
via
obrigatória para obter certos resultados (saber-fazer, aquisição de
capacidades diversas, fins de ordem econômica), e se passe a considerá-la
em toda a sua plenitude: realização da pessoa que, na sua
totalidade, aprende a ser. A
educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro pilares:
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver
juntos,
aprender a ser.
- Aprender a conhecer: combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida.
- Aprender a fazer: a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional mas, de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas também aprender a fazer, no âmbitodas diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho.
- Aprender a viver: juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências — realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos — no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.
- Aprender a ser: para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de Responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, Capacidades físicas, aptidão para comunicar-se.
Numa
altura em que os sistemas educativos formais tendem a
privilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimento de outras formas
de aprendizagem, importa conceber a educação como um todo.
Esta perspectiva deve, no futuro, inspirar e orientar as
reformas
educativas, tanto em nível da elaboração de programas como da definição de
novas políticas pedagógicas.Mas, em regra geral, o ensino formal orienta-se,
essencialmente, se não exclusivamente,
para o aprender a conhecer e, em menor escala, para o aprender a
fazer. As duas outras aprendizagens dependem, a maior parte das vezes, de
circunstâncias aleatórias quando não são tidas, de algum modo, como
prolongamento natural das duas Primeiras. Ora, a Comissão pensa que cada um dos
“quatro pilares do conhecimento” deve ser objeto de atenção igual por parte do
ensino estruturado, a fim de que a educação apareça como uma experiência global
a levar a cabo ao longo de toda a vida, no plano cognitivo como no prático,
para o indivíduo enquanto pessoa e membro da sociedade.
Sandra C. Silva
Edson G. Junior
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