CELESTIN FREINET
POR UMA PEDAGOGIA MAIS HUMANA
POR UMA PEDAGOGIA MAIS HUMANA
INTRODUÇÃO

O educador francês desenvolveu atividades hoje comuns, como as aulas-passeio e o jornal de classe, e criou um projeto de escola popular, moderna e democrática.
Muitos
dos conceitos e atividades escolares idealizados pelo pedagogo francês Célestin
Freinet (1896-1966) se tornaram tão difundidos que há educadores que os
utilizam sem nunca ter ouvido falar no autor. É o caso das aulas-passeio (ou
estudos de campo), dos cantinhos pedagógicos e da troca de correspondência
entre escolas. Não é necessário conhecer a fundo a obra de Freinet para fazer
bom uso desses recursos, mas entender a teoria que motivou sua criação deverá
possibilitar sua aplicação integrada e torná-los mais férteis.
Freinet
se inscreve, historicamente, entre os educadores identificados com a corrente
da Escola Nova, que, nas primeiras décadas do século 20, se insurgiu contra o
ensino
tradicionalista, centrado no professor e na cultura enciclopédica, propondo em seu lugar uma educação ativa em torno do aluno. O pedagogo francês somou ao ideário dos escolanovistas uma visão marxista e popular tanto da organização da rede de ensino como do aprendizado em si. “Freinet sempre acreditou que é preciso transformar a escola por dentro, pois é exatamente ali que se manifestam as contradições sociais”, diz Rosa Maria Whitaker Sampaio, coordenadora do pólo São Paulo da Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), que congrega seguidores de Freinet.
tradicionalista, centrado no professor e na cultura enciclopédica, propondo em seu lugar uma educação ativa em torno do aluno. O pedagogo francês somou ao ideário dos escolanovistas uma visão marxista e popular tanto da organização da rede de ensino como do aprendizado em si. “Freinet sempre acreditou que é preciso transformar a escola por dentro, pois é exatamente ali que se manifestam as contradições sociais”, diz Rosa Maria Whitaker Sampaio, coordenadora do pólo São Paulo da Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), que congrega seguidores de Freinet.
Na
teoria do educador francês, o trabalho e a cooperação vêm em primeiro plano, a
ponto de ele defender, em contraste com outros pedagogos, incluindo os da
Escola Nova, que “não é o jogo que é natural da criança, mas sim o trabalho”.
Seu objetivo declarado é criar uma “escola do povo”.
HISTÓRICO.
Célestian
Freinet (1896-1966) nasceu na França e foi um dos educadores que mais marcou a
escola fundamental de seu país neste século. Atualmente, suas idéias são
estudadas em várias partes do mundo, da pré-escola à universidade. Freinet
lutou na Primeira Guerra Mundial e foi ferido na altura do pulmão, o que lhe
trouxe sérias conseqüências. Falava baixo e cansava-se logo.
Célestin
Freinet se diferencia da maioria dos outros importantes pensadores e teóricos
da educação por ter sido ele mesmo um professor primário que atuou em sala de
aula por quase toda a sua vida (Freinet 1975:17). Toda a sua proposta pedagógica
deriva diretamente do trabalho desenvolvido com os alunos na busca de um
processo que os levasse a gostar da escola e do trabalho, que os levasse a ser
cidadãos conscientes e participantes críticos do meio social. Esta proposta que
criou com seus pares é conhecida por muitos e significativos nomes (“Pedagogia
Freinet”, “Pedagogia do Trabalho”, “Pedagogia do Bom Senso”, “Método Natural” e
“Pedagogia do Sucesso”) e propõe uma prática pedagógica centrada na produção do
estudante e na cooperação entre pares. Sampaio (1989) diz que “a Pedagogia
Freinet surgiu para atender à necessidade vital da criança: chegar ao seu pleno
desabrochar como um indivíduo autônomo, um ser social responsável, codetentor e
coedificador de uma cultura.”.
Em
Celestin Freinet buscamos a ideia de que o aprendizado deve se dar a partir de
ações que sejam necessárias, pela produção de bens que sejam úteis aos
aprendizes. Estes tanto podem ser bens materiais – geradores elétricos para
iluminar uma escola carente do interior – como bens culturais – poesias,
desenhos, jornais e livros escritos e impressos pelos próprios alunos e que
eram enviados às escolas das comunidades vizinhas1.
Freinet
é um pioneiro na proposição de uma prática pedagógica centrada na cooperação.
Seu trabalho pressupõe a colaboração não só entre os estudantes como entre os
educadores. Deriva de suas ações, ainda na década de 20, a primeira cooperativa
de educadores de que se tem notícia que produzia um boletim, circulares,
revista de textos infantis (La Gerbe – O Ramalhete), troca de documentos,
organização de correspondências interescolares e encontros para intercâmbio
entre educadores. Lançou assim o que chamou de movimento pedagógico
cooperativo. Dizia que, desta forma, ele e seus companheiros tinham “rompido o
círculo do individualismo estéril” (Freinet, 1975:21).
Esta
proposta pedagógica se funda na junção da cooperação no trabalho coletivo com a
valorização da produção individual. Assim, ao mesmo tempo em que permite que
cada estudante produza no seu próprio ritmo, faz com que perceba que pertence a
um conjunto maior e que sua produção tem valor para todo o grupo podendo ser
melhorada e ampliada pela interferência dos colegas. Eis porque fomos buscar em
Freinet as bases para a construção do MULEC.
E como
a pedagogia Freinet consegue que, a um só tempo, as crianças tenham uma
produção individual significativa, respeitando o ritmo de trabalho de cada uma
delas e cooperem com os colegas na produção destes? Segundo Rosa Sampaio ela o
faz desenvolvendo (Sampaio, 1989):
- o senso de responsabilidade
- o senso cooperativo
- a sociabilidade
- o julgamento pessoal
- a reflexão individual e coletiva
- a criatividade
- a expressão
- a comunicação
- o saber fazer (know how)
- os conhecimentos úteis
- a capacidade de reduzir os pontos de desigualdades sócioculturais
Para
garantir o desenvolvimento das capacidades acima foram propostas as “Técnicas
Freinet” e enunciada uma série de princípios, as “Invariantes Pedagógicas”, que
dão suporte para o professor utilizar as técnicas.
Sua pedagogia do bom senso visava também uma Educação para o trabalho. Em seu livro Educação pelo trabalho, sua principal obra, Freinet apresentava um confronto entre a escola tradicional e a escola proposta por ele, onde o trabalho tinha posição central, como metodologia. Rapidamente, Freinet percebeu que a escola era inadequada para os alunos. Constatando isto, preocupou-se em sintonizar a escola com a vida. A escola na sua concepção, deve ser ativa, dinâmica, aberta para o encontro com a vida, participante e integrada à família e à comunidade contextualizada, enfim, em termos culturais. Nessa escola, a aquisição do conhecimento deve processar-se de maneira significativa e prazerosa, em harmonia com uma nova orientação pedagógica e social em que a disciplina é uma expressão natural.
Sua pedagogia do bom senso visava também uma Educação para o trabalho. Em seu livro Educação pelo trabalho, sua principal obra, Freinet apresentava um confronto entre a escola tradicional e a escola proposta por ele, onde o trabalho tinha posição central, como metodologia. Rapidamente, Freinet percebeu que a escola era inadequada para os alunos. Constatando isto, preocupou-se em sintonizar a escola com a vida. A escola na sua concepção, deve ser ativa, dinâmica, aberta para o encontro com a vida, participante e integrada à família e à comunidade contextualizada, enfim, em termos culturais. Nessa escola, a aquisição do conhecimento deve processar-se de maneira significativa e prazerosa, em harmonia com uma nova orientação pedagógica e social em que a disciplina é uma expressão natural.
Freinet
realizou uma ação educativa na qual teoria e prática não se opõem; ao
contrário, nenhuma das duas pode desenvolver-se sem a outra. Propõe uma
pedagogia natural, “nova e popular” que ensina ao aluno não apenas o acesso à
informação, mas também a apropriação do saber; uma pedagogia que, avessa ao
imobilismo e à abstração, insere a alegria e o prazer no processo
ensino-aprendizagem.
Essa
pedagogia também entendida como Pedagogia do Bom Senso e Pedagogia do Sucesso
está alicerçada, principalmente, nos seguintes princípios: senso de
responsabilidade, senso cooperativo, sociabilidade, julgamento pessoal,
autonomia, livre expressão, criatividade, comunicação, reflexão individual e
coletiva, afetividade.
Em seu
projeto global de educação contesta, energicamente, a escola tradicional no
tocante a certos aspectos como passividade do aluno, intelectualismo excessivo
e caráter desumano da escola. Além de preocupar-se com a formação de pessoas
integras e com bom conhecimento geral, ele também achava necessário ensinar
como se deve utilizar esses conhecimentos.
O PENSAMENTO HUMANISTA DE FREINET
O pensamento de Freinet era impregnado de uma visão racionalista
de evolução social. O seu trabalho(1) faz parte do pensamento pedagógico
anti-autoritário.(2) Freinet tinha como compromisso ajudar todos os indivíduos
que necessitassem de auxílio, quer, estivessem envolvidos com a escola, quer
não. Ele se preocupava em aperfeiçoar e desenvolver as potencialidades de cada
um como ser humano. Lutava por uma igualdade universal, sempre voltada para a
área da educação, que era o que realmente lhe interessava e preocupava mais. Em
suas atividades, tentava ensinar a seus alunos a serem mais solidários por meio
de cooperativas em que todos tivessem voz para opinar, buscava transmitir o
significado de justiça e, acima de tudo, procurava ensinar seus alunos a serem
mais humanos.
Freinet
era um educador humanista contemporâneo, tinha como uma de suas metas humanizar
seus alunos e seguidores. Ele tinha um espírito libertador, intelectual era
moralmente autônomo e pluralista em seus pensamentos e tentou, com sua
pedagogia, libertar seus alunos da ignorância, do preconceito, do capricho, da
alienação e das falsas consciências, buscando assim desenvolver as
potencialidade humanas de cada um.
A
pedagogia Freinet surgiu para atender a necessidades vital da criança: chegar
ao seu pleno desabrochar como um indivíduo autônomo, um ser social responsável,
co-detentor e co-edificador de uma cultura. Sua proposta pedagógica é humanista
e liberal e busca educar a criança para ser um homem livre e crítico, fazendo
com que ela se aproprie da vida por completo e assimile a cultura que a cerca e
a cidadania, o que é primordial para qualquer ser humano.
Podemos
afirmar que quem estuda e trabalha com a pedagogia Freinet diariamente percebe
que se trata muito mais do que de uma simples proposta pedagógica. A pedagogia
freinetiana é integradora, humanista, é democrática, pluralista, aberta,
crítica e, acima de tudo, sensível e atenta ás diferenças e necessidades
culturais e individuais. É com base nessa visão que todas as crianças,
adolescentes, e adultos, são educadas na pedagogia freinetiana. A proposta
pedagógica de Freinet para a Educação(3) é muito mais do que uma proposta
pedagógica, é uma filosofia de vida.
As
dimensões pedagógicas, política e social são elementos integrantes da obra de
Freinet. A esse respeito, ele próprio salienta que a defesa de sua técnica
pressupõe dois sentidos simultâneos: o sentido pedagógico e escolar e o sentido
político e social. O movimento pedagógico fundado por Freinet pode ser
caracterizado por sua dimensão social, demonstrada através da defesa de uma
escola centrada na criança, vista não como indivíduo isolado, mas fazendo parte
de uma comunidade.
É um
dos pedagogos contemporâneos que mais contribuições oferece àqueles que estão
preocupados com a construção de uma escola ativa e dinâmica e, simultaneamente,
contextualizada do ponto de vista social e cultural.
A Pedagogia Freinet: Ação Completa Na
Educação Do Indivíduo
Importância do êxito

Outra
função primordial do professor, segundo Freinet, é colaborar ao máximo para o
êxito de todos os alunos. Diferentemente da maioria dos pedagogos modernos, o
educador francês não via valor didático no erro. Ele acreditava que o fracasso
desequilibra e desmotiva o aluno, por isso o professor deve ajudá-lo a superar
o erro. “Freinet descobriu que a forma mais profunda de aprendizado é o
envolvimento afetivo”, diz Rosa Sampaio.
Ao lado
da pedagogia do trabalho e da pedagogia do êxito, Freinet propôs, finalmente,
uma pedagogia do bom senso, pela qual a aprendizagem resulta de uma relação
dialética entre ação e pensamento, ou teoria e prática. O professor se pauta
por uma atitude orientada tanto pela psicologia quanto pela pedagogia – assim,
o histórico pessoal do aluno interage com os conhecimentos novos e essa relação
constrói seu futuro na sociedade.
Livre expressão
Esse
aspecto muito particular que atribuía ao aprendizado de cada criança é a razão
de Freinet não ter criado um método pedagógico rígido, nem uma teoria
propriamente científica. Mesmo assim, seu entendimento sobre os mecanismos do
aprendizado mereceu elogios do biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), cuja
teoria do conhecimento se baseou em minuciosa observação científica.
Freinet
dedicou a vida a elaborar técnicas de ensino que funcionam como canais da livre
expressão e da atividade cooperativa, com o objetivo de criar uma nova
educação. Lançou-se a essa tarefa por considerar a escola de seu tempo uma
instituição alienada da vida e da família, feita de dogmas e de acumulação
estéril de informação – e, além disso, em geral a serviço apenas das elites.
“Freinet colocou professor e alunos no mesmo nível de igualdade e camaradagem”,
diz Rosa Sampaio. O educador não se opunha, porém, às aulas teóricas.
A
primeira das novas técnicas didáticas desenvolvidas por Freinet foi a
aula-passeio, que nasceu justamente da observação de que as crianças para quem
lecionava, que se comportavam tão vividamente quando ao ar livre, pareciam
desinteressadas dentro da escola. Uma segunda criação célebre, a imprensa na
escola, respondeu à necessidade de eliminar a distância entre alunos e
professores e de trazer para a classe a vida “lá fora”. “É necessário fazer
nossos filhos viver em república desde a escola”, escreveu Freinet.
A
pedagogia de Freinet se fundamenta em quatro eixos: a cooperação (para
construir o conhecimento comunitariamente), a comunicação (para formalizá-lo,
transmiti-lo e divulgá-lo), a documentação, com o chamado livro da vida (para
registro diário dos fatos históricos), e a afetividade (como vínculo entre as
pessoas e delas com o conhecimento).
As invariantes pedagógicas
Com o
intuito de garantir que os professores interessados na Pedagogia Freinet
conseguissem utilizar as técnicas de maneira eficiente, Célestin organizou esta
coleção de princípios que guiam o professor em sua utilização. A cada uma das
invariantes Freinet associou um teste que permite ao professor avaliar sua
prática pedagógica. Ele as chamou de invariantes porque se aplicam
identicamente a indivíduos de qualquer procedência cultural, qualquer
povo.(Sampaio, 1989)
São 32 invariantes organizadas em três
grupos:
- A natureza da criança – 3 invariantes
- As reações da criança – 9 invariantes
- As técnicas educativas – 20 invariantes
Não
cabe aqui enunciar cada um destes princípios mas vamos destacar os que de forma
mais direta dizem respeito ao trabalho cooperativo e os que sugerem alguma forma
de exploração das atividades do MULEC.
As
invariantes que tratam da natureza da criança lembram que crianças e adultos
têm a mesma natureza e portanto os mesmos direitos e necessidades básicas e que
seus comportamentos têm determinantes da mesma ordem, isto é, dependem de seu
estado fisiológico, orgânico e emocional.
No
segundo grupo, estão invariantes que tratam do papel contraproducente do
autoritarismo, das normas de disciplina pré-impostas e sem razão evidente e da
coerção. Também neste grupo se explicita o papel positivo que têm a escolha do
próprio trabalho pelo aluno e da motivação para o trabalho. Uma invariante
ressalta que o trabalho tem que ter um objetivo claro – “ninguém gosta de atuar
sem objetivo, como máquina” – e que o dever escolar pelo dever escolar tem que
ser abolido enquanto com outra declara que as crianças devem sempre ter êxito
pois o fracasso inibe, destrói o ânimo e o entusiasmo. A derradeira invariante
deste grupo afirma que o trabalho tem primazia sobre o jogo, que o trabalho é
que é natural na criança.
Este
grupo de invariantes demonstra o acerto da concepção geral do MULEC como um
ambiente onde os estudantes criam obras cujo tema é escolhido por eles, ao
mesmo tempo que sustenta a importância de levar os alunos a criarem suas
próprias regras de convivência (regras sociais) para a organização dos grupos
produtivos.
O
terceiro grupo de invariantes trata diretamente das técnicas e práticas de
trabalho em sala de aula. Dentre estas destacamos as seguintes, mais
pertinentes aos aspectos do uso do MULEC :
Invariante
No 13 – As aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis mas pela
experiência.
O MULEC
se apresenta como um instrumento para registrar as observações feitas nas
experiências permitindo que os alunos cheguem à necessidade das leis e as
reconstruam como consequência do registro de suas observações.
Invariante
No 16 – A criança não gosta de receber lições ex-cathedra.
Usando
o MULEC a criança aprende porque produz e enquanto produz. Esta produção pode
incluir pesquisa, experiências e debates, mas tudo se dá a partir da atuação da
criança. Uma aula que parta do interesse do estudante que pesquisou, escreveu
sobre um assunto e trouxe dúvidas, o interessa e o envolve.
Invariante
No 17 – A criança não se cansa de um trabalho funcional.
O MULEC
deve ser usado para que os estudantes gerem produtos de sua escolha e portanto
participem de atividades que os envolvam e os solicitem. Cada atividade ou jogo
proposto aos estudantes deve fazer sentido para eles e se inserir num conjunto
mais amplo de atividades que levem explícita e evidentemente a um fim.
Invariante
No 18 – A criança e o adulto não gostam de ser controlados e receber sanções.
Isso caracteriza uma ofensa à dignidade, sobretudo se exercida publicamente.
O papel
reservado ao professor que usa o MULEC é o de companheiro de trabalho, elemento
que facilita a produção e colabora no enfrentamento das dificuldades surgidas
no processo produtivo. O trabalho de correção dos textos produzidos cabe em
parte ao próprio aluno (correção ortográfica) com os instrumentos que o sistema
fornece. Quando exigir a participação do professor deve-se ter claro que o que
necessita de correção é o trabalho e não o aluno.
Invariante
No 19 – Notas e classificações constituem sempre um erro.
A nota
é eminentemente inibidora. Não será possível ter participação livre numa
produção artística, de invenção ou qualquer outro tipo de criação se a ela será
dada uma nota. Os instrumentos de avaliação que incluímos no MULEC servem para
que o grupo envolvido com a produção verifique se está conseguindo atingir os
objetivos planejados e se o produto tem a qualidade desejada. Desta forma, a
avaliação é um instrumento para correção de rumos que deve ser usado pelo
próprio grupo de alunos.
Invariante
No 21 – A criança não gosta de sujeitar-se a um trabalho em rebanho. Ela
prefere o trabalho individual ou em equipe numa comunidade cooperativa.
Isto
indica que as atividades propostas no MULEC devem preferencialmente ser
dirigidas a pequenos grupos que consigam desta forma manter viva a identidade
de cada elemento do grupo.
Invariante
No 22 – Ordem e disciplina são necessárias na aula.
É
absolutamente fundamental que se tenha clareza da necessidade imperiosa deste
princípio quando se pretende desenvolver um trabalho cooperativo. Por isso
mesmo as regras de convívio devem ser produto da decisão do grupo que, desta
forma, construirão as regras que acreditam necessárias para o funcionamento
satisfatório do coletivo. Desta forma, o uso do MULEC contribui explicitamente
para a reflexão sobre as regras de convívio e o desenvolvimento de habilidades
sociais.
Invariante
No 27 – A democracia de amanhã prepara-se pela democracia na escola. Um regime
autoritário na escola não seria capaz de formar cidadãos democratas.
Usar o
MULEC supõe estabelecimento de relações entre os alunos de respeito ao trabalho
e às decisões alheias. Implica em respeitar direitos de minorias e acatar
decisões da maioria, em participar de uma produção com muitas facetas onde as
diversas contribuições são igualmente necessárias e diferentes na sua criação e
função. A diversidade contribui para a criação de obras melhores e mais amplas
do que seria a reunião simples dos trabalhos dos vários alunos. Ao perceber
isso os alunos estarão descobrindo o valor e o poder que advém de se organizar
democraticamente.
Invariante
No 30 – É preciso ter esperança otimista na vida.
As
técnicas Freinet
As técnicas Freinet não fazem sentido se vistas isoladamente,
compartimentalizadas. Elas devem ser vistas como uma coleção de estratégias e
formas de ação que, em conjunto, permitem atingir o objetivo proposto. Cada uma
das atividades tem sentido se desenvolvida a partir de uma concepção
cooperativa de produção, como se verá a seguir.
Algumas
destas técnicas têm uma relação quase imediata com as atividades que
desenvolvemos para o MULEC. Outras justificam o desenvolvimento de alguns
aspectos da interface ou de alguns módulos auxiliares. As principais técnicas,
que serão descritas a seguir, são:
- Cooperativa escolar
- A imprensa na escola
- O jornal escolar
- A correspondência interescolar.
- O livro da vida
- O jornal mural
- O fichário escolar cooperativo h. O estudo do meio
- A aula passeio
- A biblioteca
- O fichário auto corretivo
- Os planos de trabalho
- Os cantos das atividades
- Os complexos de interesse.
Cooperativa Escolar
Reside
na cooperativa escolar a essência da pedagogia Freinet. Ela é a forma de
organização da classe em que todos têm voz e voto. A organização do trabalho
parte de um contrato estabelecido entre o professor e os alunos, onde se
definem os objetivos, os princípios e os meios pelos quais o grupo perseguirá
suas metas. A partir deste contrato as atividades são deslanchadas e, em cada
uma delas, o espírito de cooperação deve estar presente.
Os
membros desta cooperativa se reúnem regularmente para avaliar o produto de seu
trabalho e verificar se estão caminhando para alcançar as metas previstas.
Estas reuniões têm um redator e um coordenador e nelas, além de se discutir e
avaliar as atividades recentes, são propostas as atividades subsequentes,
resolvem-se problemas apresentados pelos membros do grupo e se discute
propostas sobre sua organização administrativa e financeira.
Esta
forma de organização do grupo de estudantes para a produção em cooperação está
na raiz da motivação para o desenvolvimento do MULEC.
A imprensa na escola
Freinet propõe a montagem de uma tipografia na escola que deve
ser utilizada e manuseada pelos alunos para imprimir seus textos, permitindo
assim que os enviem a outras escolas, a seus pais e aos demais membros da
comunidade. A produção de um material impresso valoriza o registro do
pensamento da criança.
O uso
da imprensa tem ainda outras razões: não se pretende que cada aluno se torne um
tipógrafo mas que eles desmistifiquem o texto impresso em livros, jornais e
revistas. Um livreto impresso pelos alunos passa a ter o mesmo status dos
textos profissionais.
Além
disso, o ato de imprimir um texto para ser lido por terceiros traz para este
texto exigências de qualidade que, de outra forma pareceriam exigências
infundadas e maçantes por parte do professor (“afinal ele não entendeu o que eu
queria dizer?”).
O fato
de a impressão ser uma construção artesanal, que o aluno compõe letra por
letra, manualmente, estabelece uma ligação ímpar do aluno-tipógrafo com o
texto. Uma ligação que o faz responsável pela qualidade ortográfica ao mesmo
tempo que o expõe à necessidade de planejar graficamente o espaço dedicado ao
texto decidindo, por exemplo, o tamanho dos tipos a serem utilizados em cada
parte do texto e o local da página em que aporá cada informação. A tipografia
transforma, para alunos pequenos (até dez anos), o texto em algo concreto,
literalmente manipulável, portanto mais adequado ao seu desenvolvimento
intelectual.
Atualmente,
para estudantes com mais idade, este sistema de impressão pode ser substituído
por uma impressora comum ligada a um micro com programas de editoração e
composição de página, funcionalidades que são encontradas em quase qualquer
editor de textos para MS Windows. O MULEC fornece estas possibilidades
permitindo que os estudantes imprimam seus trabalhos com a qualidade que o
sistema instalado seja capaz (fontes e impressora), dando aos trabalhos um
aspecto de textos profissionais se os alunos assim o desejarem.
O jornal escolar
Ícone
maior desta proposta, o jornal escolar permite a interação regular entre
escolas e destas com as comunidades em que estão inseridas. É o jornal escolar
que leva a produção literária e gráfica (desenhos) dos alunos a seus pais,
correspondentes de outras escolas, aos membros da comunidade, etc. Sua produção
é feita de maneira cooperativa. O jornal é uma reunião de textos livres
(descrito a seguir), realizados e impressos diariamente. Mensalmente são
agrupados e enviados para os assinantes e correspondentes.
Para o
jornal, a criança “não escreve apenas o que interessa a ela; escreve aquilo
que, nos seus pensamentos, nas suas observações, nos seus sentimentos e nos
seus atos é susceptível de interessar os seus camaradas e de vir a interessar
os seus correspondentes” (Freinet, 1974:21).
O texto
livre
Todo o trabalho do estudante começa sempre nos textos livres,
base da Pedagogia Freinet. Estes são textos efetivamente livres, na forma e no
tema. São expressão do desejo e da curiosidade da criança ao mesmo tempo em que
explicitam os temas que elas elegem como importantes.
A
produção do texto livre parte da vontade do estudante e se dá no instante em
que esta vontade se manifesta e não em alguma aula ou momento previamente
escolhido para isso. Segundo os defensores do Método Natural “só assim ele
trará as vantagens que reconhecem essenciais: espontaneidade, vida, criação,
ligação íntima e permanente com o meio e a expressão profunda da criança e do
jovem” (Sampaio, 1989).
O texto
livre parte de um trabalho individual, produzido por um estudante no aconchego
de sua solidão partindo de sua vontade soberana. Em seguida, a classe escolhe,
entre os vários textos produzidos, um que será “aperfeiçoado coletivamente,
quer no que diz respeito à verdade do conteúdo, quer na sua forma sintática
gramatical e ortográfica. A obra que depois é dada aos pequenos tipógrafos é o
resultado do nosso método natural de trabalho, que respeita o pensamento
infantil mas contribui com seu auxílio técnico, enquanto espera que a criança
esteja em condições de caminhar pelo seu pé e de nos trazer textos e poemas que
só teriam a perder com a nossa intervenção.” (Freinet, 1974:21)
Mas o
texto livre não nasce por um passe de mágica: é preciso inspirar na criança o
desejo de se exprimir. E isto se dá por intermédio do jornal e das cartas aos
correspondentes. Quando a criança percebe que o que tem para contar é
importante para a sua comunidade, se engaja no trabalho e produz com afinco e
prazer.
O texto
livre é a base de muitas atividades do MULEC. Particularmente as atividades de
criação de histórias (Livro Cortado, Construção da Melhor Resposta) e de
jornais têm em sua concepção momentos dedicados à criação de textos livres nos
moldes aqui descritos.
A
correspondência interescolar.
Rosa
Sampaio descreve a correspondência interescolar assim:
“É com
a correspondência escolar que a criança
faz a aprendizagem da vida cooperativa, tão essencial na
Pedagogia Freinet. A criança deve contar com os outros e
confiar neles. Uma classe se corresponde com outra só
depois de os professores terem se comunicado e organizado
os pares de alunos correspondentes. Os professores também
trocam correspondências e esse vínculo é demais
importante. Após a escolha dos pares, as crianças preparam
o gráfico para identificar os correspondentes e indicar
a periodicidade das cartas enviadas.”
(Sampaio, 1989:195)
faz a aprendizagem da vida cooperativa, tão essencial na
Pedagogia Freinet. A criança deve contar com os outros e
confiar neles. Uma classe se corresponde com outra só
depois de os professores terem se comunicado e organizado
os pares de alunos correspondentes. Os professores também
trocam correspondências e esse vínculo é demais
importante. Após a escolha dos pares, as crianças preparam
o gráfico para identificar os correspondentes e indicar
a periodicidade das cartas enviadas.”
(Sampaio, 1989:195)
Esta
correspondência inclui, além dos textos e desenhos produzidos pelas crianças,
informações sobre a cidade e/ou o bairro em que moram, fitas gravadas,
presentes feitos por elas ou pela família, comidas típicas e muitas outras
coisas que sejam do interesse das crianças trocar, ou para mostrar a seus
correspondentes como é a vida em sua comunidade.
A
correspondência permite abrir a escola para a vida, que por sua vez, se mistura
com a vida dos alunos. Por exemplo, os estudantes pesquisam a história e a
geografia de sua comunidade para descrever aos seus correspondentes como é o
espaço em que vivem. Mas os ganhos resultantes vão além da troca de
documentação e transcendem o âmbito escolar: a correspondência é fortemente
embebida de afetividade (Sampaio, 1989:196).
Propomos
que toda a produção do MULEC deve ser estimulada pela troca e envio regular a
outros estudantes e pessoas interessadas em sua produção, como pais,
professores de outras matérias e professores e alunos de outras escolas. O fato
de se sentirem se comunicando com terceiros através de suas obras dará a eles
maior consistência e razão de existir.
O livro
da vida
É o
documento que registra todos os acontecimentos importantes da classe. Nele os
alunos colocam seus desenhos, escrevem, colam desenhos, notícias, recortes,
fotos e tudo o mais que considerem relevante. Este é o documento onde estará
registrada a evolução do trabalho da turma e poderá ser lido pelos colegas,
pais e professores. Compõe-se de uma grande folha de papel à qual podem ser
coladas outras, na medida da necessidade.
O MULEC
fornece uma janela (Janela Principal) que tem esta mesma função, onde serão
mostrados, além da obra que está sendo criada pelo grupo, as anotações e
comentários dos diversos elementos participantes que podem ser os próprios
autores ou outros convidados (os palpiteiros).
O
jornal mural
O
jornal mural ocupa um local de destaque na escola e é onde os alunos expõem
suas opiniões, anseios, críticas e desejos. É composto de uma grande folha de
papel (trocada semanalmente) dividida em três colunas, com os títulos: Eu
proponho, Eu critico, Eu felicito. As contribuições para este jornal são sempre
assinadas e sua função é explicitar o que pensam as crianças quanto ao funcionamento
da classe e da escola.
O
fichário escolar cooperativo
Na
pedagogia Freinet o fichário escolar preenche o espaço normalmente ocupado
pelos livros didáticos ou manuais escolares. É composto por fichas de assuntos
específicos que são elaboradas pelos próprios alunos. A ideia central é de que
estes fichários apresentarão as questões em uma forma mais próxima da realidade
das crianças. As fichas apresentam sempre uma proposta de atividade e propõem
diversas formas para a utilização de algum material. Estas fichas são reunidas,
classificadas por assunto e publicadas pela Cooperativa das Escolas Laicas para
uso em sala. Os fichários adquiridos por cada escola são ampliados com as
experiências ali desenvolvidas por seus alunos.
Os
relatórios de experiências escolares escritos no MULEC poderão, a exemplo das
fichas de Freinet, compor um conjunto para consulta por outros alunos no
futuro. Alunos de diversos grupos podem trocar as bibliotecas com as obras que
venham a criar e compor uma grande biblioteca que pode ser organizada por
temas, como os fichários cooperativos.
O
estudo do meio
Este é,
mais do que uma técnica, um princípio sobre o qual se assenta a Pedagogia do
Trabalho. É o estudo do ambiente em que o aluno vive, incluídos aí o meio
físico e social. Os alunos fazem pesquisas de campo, entrevistas, buscam
documentos e compõem um registro (em geral ilustrado) que descreve o local em
que vivem sob seus vários aspectos. Este registro é ampliado sempre que os
estudantes fazem novas descobertas ou observações.
A
educação é vista como um instrumento que possibilita a inserção do estudante em
seu meio ambiente e possibilita que seja transformador crítico deste meio.
Se
pretendemos que o MULEC seja usado livremente pelos alunos, independentemente
da coerção imposta por notas e avaliações escolares, impõe-se a definição de
uma estratégia de uso que valorize a reflexão sobre o mundo em que vive o
aluno. É necessário também que seja possível ao professor incorporar ao MULEC
novas atividades baseadas nos jogos e brincadeiras que as crianças de cada
escola gostem.
A
aula-passeio
As
aulas-passeio surgiram da necessidade de aproximar o trabalho em sala da vida
real das crianças. Eram uma forma de trazer para a sala de aula a alegria e o
entusiasmo que ficavam na porta de entrada da escola tradicional. Freinet levou
os alunos para onde se sentiam felizes: lá fora. Percebeu e demonstrou que o
ensino é muito mais eficiente quando se baseia no desejo e no prazer do
educando.
Nestes
passeios os alunos recolhiam e observavam plantas, pedras, animais, e quando
voltavam, escreviam na lousa um resumo do que ocorrera. O texto era comentado,
acrescido e transformado pelas crianças, que ao final o copiavam em seus
cadernos. Assim, Freinet conseguia uma aula viva através da qual os alunos
estudavam e conheciam mais profundamente o seu meio. Eram aulas animadas em que
toda a vivacidade das crianças contribuía para a construção coletiva do
conhecimento.
O MULEC
fornece duas atividades (“Construção da Melhor Resposta” e “Relatórios de
Atividades”) cuja função primordial é exatamente permitir que estudantes
cooperem para registrar e formalizar observações feitas em atividades como as
aulas-passeio e gerar relatórios em que as conclusões sejam o resultado de uma
discussão de todo o grupo acerca do que observaram e/ou experimentaram.
A
biblioteca
A
Pedagogia Freinet pressupõe a criação de um local para ser o centro de cultura.
Ali estarão reunidos, além dos óbvios livros, um centro de documentação (com
documentos produzidos pelos alunos e conseguidos por correspondência ou na
comunidade), canto de leitura, canto da impressora, do material audiovisual, de
exposição, de reuniões e o escritório (com fichas de consulta).
O
computador, com a versatilidade que lhe é peculiar, reúne em si estas várias
possibilidades. Documentos, produtos multimídia, trabalhos dos alunos, fichas
de consulta, podem todos estar acessíveis no micro. O MULEC cria uma biblioteca
com os produtos ali criados para serem acessíveis a todos, tanto para simples
leitura e consulta como para o aproveitamento de partes das obras para
reutilização em novas obras.
O fichário auto corretivo
É uma
coleção de fichas que propõe problemas e apresenta soluções (em fichas
separadas) de maneira a permitir que o estudante caminhe no seu próprio ritmo.
Fazem parte ainda do fichário autocorretivo uma coleção de “fichas-teste”, que
permitem avaliar o grau de desenvolvimento dos alunos, e “fichas-correção”, que
proporcionam trabalho suplementar para os que esqueceram ou confundiram alguma
noção ao fazer a “ficha-teste”. Estas fichas são uma forma de o estudante
“entrar em contato” e aprender com alguém mais experiente alcançando limites
que vão além de sua capacidade individual. O aluno penetra assim em sua zona de
desenvolvimento proximal, estrutura mental descoberta por Vygotsky.
A
grande maioria das atividades do MULEC produzirá material para compor um
fichário de autocorreção a ser utilizado em seções posteriores. Em verdade, a
função de alguns jogos é produzir, dinamicamente, resultados que possam ser
utilizados pelos estudantes como instrumentos de auto correção (para utilizar
uma linguagem adaptada à de Freinet). Os muleques que participam de um jogo
como o de preenchimento de lacunas ou a logomania, disponibilizam suas soluções
para serem estudadas e descobertas pelos colegas. As soluções encontradas por
cada participante podem ser guardadas (a critério do grupo) para consulta
posterior.
Os
planos de trabalho
Planos
de trabalho são elaborados em conjunto pelo professor e os alunos, no início do
ano, numa reunião de contrato em que o professor apresenta aos alunos o
programa que deve ser cumprido por exigência curricular, conversa com eles
sobre os motivos desta exigência e sugere que façam um plano dividindo o
programa pelos meses e em seguida partindo em programas semanais. Depois de
distribuírem o programa ao longo do ano os alunos devem planejar as estratégias
e o material que deve ser utilizado a cada momento. Esta escolha livre gera
grande motivação para o aprendizado efetivo.
Os cantos das atividades
O
espaço da escola é dividido em cantos de trabalho para atividades específicas.
Alguns cantos comportam apenas algumas atividades, outros podem variar, mas
todos eles comportam um número reduzido de alunos. Em cada canto há uma mesa ou
bancada e o material necessário fica organizado e ao alcance dos alunos.
Como os
cantos comportam um número limitado de alunos e são destinados a atividades
específicas, seu uso implica no desenvolvimento da socialização das crianças.
As crianças têm muitas opções a seu dispor ao mesmo tempo mas, por outro lado,
não obrigatoriamente terão sua vontade atendida imediatamente. Isto os levará a
descobrir o valor da cooperação e deverão negociar para ter os seus desejos
atendidos. Por outro lado, como o professor não pode dar atenção a todos os
grupos simultaneamente (cada grupo está desenvolvendo uma atividade diversa em
paralelo) faz com que os grupos busquem soluções próprias para os problemas com
que se defrontam, desenvolvendo sua autonomia.
O
sucesso desta organização espacial e lógica das atividades nas salas de aula
nos indica que as diferentes atividades do MULEC podem e devem ser propostas
simultaneamente a pequenos grupos dentro de uma mesma turma.
Cooperação sim, manuais não
Com a
intenção de propor uma reforma geral no ensino francês, Freinet reuniu suas
experiências didáticas num sistema que denominou Escola Moderna. Entre as
principais “técnicas Freinet” estão a correspondência entre escolas (para que
os alunos possam não apenas escrever, mas ser lidos), os jornais de classe
(mural, falado e impresso), o texto livre (nascido do estímulo para que os
alunos registrem por escrito suas idéias, vivências e histórias), a cooperativa
escolar, o contato freqüente com os pais (Freinet defendia que a escola deveria
ser extensão da família) e os planos de trabalho. O pedagogo era contrário ao
uso de manuais em sala de aula, sobretudo as cartilhas, por considerá-los
genéricos e alheios às necessidades de expressão das crianças. Defendia que os
alunos fossem em busca do conhecimento de que necessitassem em bibliotecas (que
deveriam existir na própria escola) e que confeccionassem fichários de consulta
e de autocorreção (para exercícios de Matemática, por exemplo). Para Freinet,
todo conhecimento é fruto do que chamou de tateamento experimental – a
atividade de formular hipóteses e testar sua validade – e cabe à escola
proporcionar essa possibilidade a toda criança.
CONCLUSÃO GERAL.
A
pedagogia Freinet não deve ser entendida como uma camisa-de-força que nos
amarra e impede modificações. Ao contrário, ela se preocupa permanentemente com
a atualidade, em estar a serviço da compreensão e da preparação do estudante
para o mundo real. Para tal ele sugere que se use todos os recursos que a
sociedade fornece a cada momento. Em suas palavras, diz que podemos
“tentar
modernizar os utensílios da escola, melhorar suas técnicas, para modificar
progressivamente as relações entre a Escola e a Vida, entre as crianças e os
professores, de maneira a adaptar ou a readaptar a escola ao meio, para obter
um melhor rendimento de nossos esforços comuns”
(Freinet, 1974:12)
,
e mais
adiante:
“A
escola Moderna não é nem uma capela nem um clube mais ou menos restrito, mas,
na realidade, uma via que nos conduzirá àquilo que, todos juntos,
construirmos.”
(Freinet, 1974)
(Freinet, 1974)
Freinet
abria, assim, as portas de sua pedagogia às inovações que a sociedade viesse a
produzir no futuro. Particularmente feliz é o casamento entre a proposta
desenvolvida por ele e seus pares e a microinformática. Com a redução dos
custos dos equipamentos e a ampliação das suas capacidades de comunicação, os
computadores podem trazer para a sala de aula um leque de opções para produção
e transmissão de textos e imagens que eram absolutamente impensáveis há poucos
anos. O MULEC se apresenta como uma ferramenta que amplia as possibilidades da
pedagogia Freinet levando para a sala de aula, num só objeto, muitos “cantos”,
muitos fichários e muitos correspondentes em potencial. Mas o mais importante é
que o MULEC faz de cada estudante um cooperador num processo de produção
coletiva de conhecimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Coerência
num tempo de extremos
Crianças na Paris ocupada, em 1940, lêem instruções sobre o uso de máscaras de gás: tempo de perseguições ideológicas. Foto: HULTON ARCHIVE/Getty Images
Crianças na Paris ocupada, em
1940, lêem instruções sobre o uso
de máscaras de gás: tempo de
perseguições ideológicas.
Crianças na Paris ocupada, em 1940, lêem instruções sobre o uso de máscaras de gás: tempo de perseguições ideológicas. Foto: HULTON ARCHIVE/Getty Images
Crianças na Paris ocupada, em
1940, lêem instruções sobre o uso
de máscaras de gás: tempo de
perseguições ideológicas.
A
medida da independência do pensamento de Freinet pode ser deduzida do fato de
ele ter sido perseguido, ao longo da vida, por forças políticas de tendências
totalmente opostas. Embora pacifista, o educador envolveu-se nas duas grandes
guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945). O primeiro conflito ideológico de que
participou, no entanto, se deu na cidade de Saint-Paul de Vence, habitada por
uma comunidade conservadora, que reprovou seus métodos didáticos e conseguiu
que fosse exonerado do cargo de professor, em 1933. Durante a Segunda Guerra
Mundial, em 1940, com a França ocupada pela Alemanha nazista, foi preso como
subversivo, tanto por sua filiação ao Partido Comunista como por suas
atividades inovadoras no campo pedagógico. Depois do fim da guerra, passou a
ser chamado freqüentemente a colaborar com políticas oficiais e foi tachado de
pensador burguês pela cúpula do PC, do qual se desligou na década de 1950.
Pessoalmente, Freinet nunca abandonou sua crença no socialismo nem seus planos
de colaborar para a criação de um ensino de caráter popular na França e em
outros países.
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