Resumo.
A busca por alternativas para o
desafio de uma educação de qualidade tem sido atualmente tema de muitas
pesquisas no âmbito educacional. A prática de propostas educacionais atuais
destoa daquilo que habitualmente se refere como discurso de valorização para
uma educação completa e crítica. Há uma necessidade de ampliarmos o debate
sobre como dinamizar as potencialidades das instituições educacionais a fim de
propor mudanças no sistema educacional que se encontra fragmentado e ineficaz.
Nossa investigação tem o foco a reflexão sobre os objetivos educacionais da
Pedagogia Progressista, refere-se às inquietações de Paulo Freire e outros
autores que elaboraram propostas de ensino que podem se tornar parte da
construção de uma educação com propósitos para uma formação mais completa aos
estudantes brasileiros do ensino médio.
Introdução.
Este artigo traz algumas reflexões
sobre os objetivos e metodologia da pedagogia progressista a fim de compreender
sobre a superação da visão fragmentada e tecnicista do ensino. A consolidação
da abordagem progressista é um desafio que deve ser transposto dia a dia. “A
passagem para um novo paradigma não é abrupta e nem radical. É um processo que
vai crescendo, se construindo e se legitimando” (BEHRENS, 2005, p.26).
O foco das nossas análises está na
compreensão dos objetivos e metodologia da proposta de Paulo Freire. Durante a
nossa realização de estágio na disciplina de sociologia, no contexto do ensino
médio, observamos a necessidade de um paradigma educacional que trouxesse significado
para a aprendizagem, além da única preocupação em aprovação nos vestibulares. O
texto refere-se a um problema que é a dificuldade de inserção da Pedagogia
Progressista na atualidade do contexto do ensino. Para tal mediação,
estabeleceram-se os seguintes procedimentos metodológicos: Compreender a base
teórica e o conceito da visão progressista da educação, discutir sobre a
relação professor-aluno na metodologia progressista e propor uma discussão
sobre os valores e aspectos da prática pedagógica no ensino médio mediante tal
proposta de educação.
A Pedagogia Progressista é no Brasil
um paradigma educacional que propõe a transformação social por meio da
educação. Tal proposta, sintetizando, tem como cerne a maneira como o indivíduo
se propõe a explicar determinada realidade. Segundo Behrens (2005), atualmente
existem três propostas inovadoras que conduz os alunos a dialogarem sobre as
problemáticas de seu espaço social: o modelo sistêmico, o progressista e a
pesquisa de campo.
Os pressupostos da pedagogia progressista
caminham no sentido de propiciar que o aluno questione os conceitos
transmitidos pelas instituições escolares. Essa problematização dos temas
sociais é fundamental para uma profunda e real transformação da educação
brasileira. Enfatiza-se que se quisermos que o país tenha uma educação de
qualidade, cabe-nos a tarefa de reafirmar a escola como um espaço de acesso a
cultura elaborada, espaço de produção cultural e intelectual.
No âmbito nacional, segundo Libâneo
(1990) a metodologia progressista se manifestou por meio de três pedagogias: a
libertadora, mais conhecida como pedagogia de Paulo Freire, a libertária, que
reúne defensores da autogestão pedagógica e a crítico-social dos conteúdos,
que, diferentemente das anteriores, acentua a primazia dos conteúdos no seu
confronto com as realidades sociais. O enfoque de nossas análises consiste na
pedagogia de Paulo Freire, por ser considerada crítico-social, com influência
transformadora na educação.
Os Pressupostos da Metodologia
Progressista levam em consideração o indivíduo como ser que constrói a sua
própria história. Consiste em desenvolver atividades de ensino, nas quais, o
centro do processo não é o professor, mas o aluno que se torna sujeito de seu
aprendizado. Os interesses, os temas e as problemáticas do cotidiano do aluno,
nesta perspectiva, devem constituir os conteúdos do conhecimento escolar. O
conhecimento deve ir além da definição, classificação, descrição e
estabelecimento de correlações dos fenômenos da realidade social. Sendo assim,
é uma das tarefas do educador explicitar as problemáticas sociais concretas e
contextualizá-las, de modo a desmontar pré-noções e preconceitos que sempre
dificultam o desenvolvimento da autonomia intelectual e de ações políticas
direcionadas para uma transformação social. O ensino deve ser encaminhado de
modo que a dialética dos fenômenos sociais seja explicada e entendida para além
do senso comum, uma síntese que favoreça a leitura das sociedades à luz do
conhecimento científico.
Sob essa perspectiva, o professor
atua como educador e também sujeito do processo, estabelece uma relação
horizontal com os alunos e busca no diálogo sua fonte empreendedora na produção
do conhecimento. O professor assume o papel de mediador entre o saber elaborado
e o conhecimento a ser produzido. É importante ensinar aos alunos que as
estruturas de um determinado espaço social variam de uma sociedade para outra e
numa mesma sociedade, pois ela reflete as condições econômicas, políticas,
sociais e culturais das sociedades em um determinado contexto, e ela está
sempre em construção, por isto o cenário ideal não existe em nenhuma parte do
mundo (FREIRE, 2005).
Atualmente, como reflete Behrens
(2005), o aluno adquire uma visão fragmentada não somente da realidade, mas de
si mesmo, dos valores e dos seus sentimentos. A tendência acentuada nas escolas
do ensino médio tem caminhado no sentido de serem cada vez mais tecnicista, com
a finalidade única e específica de preparação para os exames e avaliações do
sistema nacional, principalmente os vestibulares. Para Behrens:
A visão fragmentada levou os
professores e os alunos a processos que se restringem à reprodução do
conhecimento [...]. A ênfase do processo pedagógico recai no produto, no
resultado, na memorização do conteúdo, restringindo-se em cumprir tarefas
repetitivas que muitas vezes, não apresentam sentido ou significado para quem
as realiza (2005, p. 23).
Neste sentido Kuenzer (1999, p. 167)
afirma que:
Essa pedagogia foi dando origem a
propostas que ora se centraram nos conteúdos, ora nas atividades, sem nunca
contemplar uma relação entre aluno e conhecimento que verdadeiramente
integrasse conteúdo e método, de modo a propiciar o domínio intelectual das
práticas sociais e produtivas. Em decorrência, a seleção e a organização dos
conteúdos sempre tiveram por base uma concepção positivista de ciência, uma
concepção de conhecimento rigorosamente formalizada, linear e fragmentada, em
que a cada objeto correspondia uma especialidade, a qual, ao construir seu
próprio campo, se automatizava, desvinculando-se das demais e perdendo também o
vínculo com as relações sociais e produtivas.
Isto ocorre porque o modo de
organização tecnicista exige uma escola que articule uma formação do aluno para
o sistema produtivo. A sociedade capitalista com a emergência de uma realidade
orientada por uma lógica de mercado, passaram à escola e ao trabalho, a se
restringirem apenas às tarefas estanques, sem a consciência do processo social
como um todo e do produto de suas ações. Em contraposição a isto, um dos pressupostos
da Pedagogia Progressista é instigar uma busca pela reaproximação do todo,
superando a fragmentação do ensino e a simples reprodução do conhecimento, uma
ação pedagógica que leve à produção do conhecimento que busque a formação de um
sujeito crítico e inovador. Para isso, o professor deve questionar e induzir
seus alunos à crítica da realidade circundante abrindo espaço para a
democratização do saber. Segundo Freire (1997, p.81): “Ensinar é a forma que
toma o ato do conhecimento que o(a) professor(a) necessariamente faz na busca
de saber o que ensina para provocar nos alunos o seu ato de conhecimento
também”. Behrens (2005, p.74) complementa: “[...] é pela atuação do professor
na prática cognoscente que os educandos vão se tornando sujeitos críticos”.
Paulo Freire (1992), em sua pedagogia
libertadora, apresenta uma proposta de humanização do professor como norteador
do processo sócio-educativo, com o intuito de construir uma consciência crítica
com relação à realidade social vivida, que está fundamentada em uma concepção
de competição desmedida e desigual que refletem sob todas as camadas sociais,
mas, sobretudo, com as de baixa renda.
Freire (1992) constrói seu pensamento
em favor de uma sociedade mais justa e igualitária, de uma formação crítica e
consciente aos estudantes. Em relação a isto, é interessante observar a forma
como ele constrói e articula suas idéias, nos perguntamos sobre o que está
sendo lido e simultaneamente nos questionamos com a realidade vivida. Consegue
condensar de forma simples e permeada de significados vários sentimentos de
estranhamento que se encontram nas mais diversas instituições de ensino, o
autor enfatiza a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa,
sem a qual a teoria pode se tornar apenas discurso e a prática uma reprodução
alienada, sem questionamentos. Sob esse viés, a teoria deve ser adequada à
prática cotidiana do professor, que passa a ser um modelo influenciador de seus
educandos. A prática da crítica deve estar ao lado da valorização das emoções.
O professor, para Freire (1997,
p.15-18) deve ensinar a “pensar certo”, sendo a prática educativa em si um
testemunho rigoroso. Para Freire (1997, p.34), faz parte do pensar certo a
"[...] disponibilidade ao risco, a aceitação do novo e a utilização de um
critério para a recusa do velho", estando presente a rejeição a qualquer
forma de discriminação. Destaca a importância de propiciar condições aos
educandos, em suas socializações com os outros e com o professor, de testar a
experiência de assumir-se como um ser histórico e social, que pensa, que
critica, que opina, que dialóga. Para isso, exige-se a necessidade dos
educadores criarem condições para a construção do conhecimento pelos educandos
como parte de um processo em que o professor e o aluno não se reduzam à
condição de objeto um do outro, porque ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção
(FREIRE, 1997).
Nesse sentido, problematizar a
realidade social vivida, por essência, é uma forma de intervenção no mundo, uma
tomada de posição e decisão, por vezes, até uma ruptura com o passado e o
presente. Em uma análise sociológica, o homem não pode apenas tentar se pôr no
lugar daquele que está falando e deste modo pensar e ver toda a complexidade do
espaço social a partir apenas deste ponto de vista. Não basta conhecer os fatos
sociais formalmente, é preciso entender as relações que regem determinada
conjuntura, devemos ir para além das aparências.
Freire (1997) ressalta o quanto um
determinado gesto do educador pode repercutir na vida de um aluno (afetividade
e postura) e da necessidade de reflexão sobre o assunto, pois para o autor,
ensinar exige respeito aos saberes do educando. A construção de um conhecimento
em parceria com o educando depende da relevância que o educador dá ao contexto
social. O professor mais do que aquele que ensina é uma referência aos alunos,
por isto, ensinar e orientar são ideais que devem caminhar juntos na profissão.
Sendo assim, não somente as palavras utilizadas, mas também suas condutas têm
influência direta e indireta na relação estabelecida com seus alunos. Nas salas
de aula são transmitido mais do que palavras: são transmitidos valores e
conteúdos que vão além do conhecimento mensurável.
Freire (1997) defende a necessidade
de conhecimento e afetividade por parte do educador para que este tenha
liberdade, autoridade e competência no decorrer de sua prática docente,
acredita que a disciplina verdadeira não está no silêncio dos silenciados, mas
no alvoroço dos inquietos, o que implicaria na autoridade verdadeiramente
democrática. Na visão de Freire (1997), o educador deve exercer sua autoridade
e sua liberdade. Liberdade esta que deve ser vivida em sua totalidade com a
autoridade em uma relação dialética, centrada em experiências estimuladoras de
decisão e responsabilidade.
Freire (1997), salienta que a
educação tem a política como uma característica inerente à sua natureza
pedagógica, e alerta para a necessidade de nos precavermos dos discursos
ideológicos, dos quais a educação também faz parte, pois ameaçam confundir a
curiosidade, além de distorcer e fragmentar a leitura e interpretação dos fatos
e acontecimentos. Isso não significa que o educador deva apresentar postura
neutra, pois é um ser histórico, político, pensante, crítico e emotivo.
Um dos impulsos mais freqüentes da
prática social é a naturalização. No meio social existe uma grande tendência de
apresentarem os fatos sociais como eternos, imutáveis, distantes e
obrigatórios, que ofuscam a capacidade de refletir, de acreditar na mudança.
Também como resultado desse processo, tem-se o quadro da educação brasileira
expresso de contradições e exclusões. O capitalismo leva a sociedade a um
consumismo para muito além das necessidades e a uma alienação coletiva, ou
seja, nos afasta daquilo que nos faz humanos.
O fracasso educacional deve-se a um
conjunto de contradições dentre os quais, em particular, caminha para técnicas
de ensino ultrapassadas e sem conexão com o contexto social e econômico do
aluno, mantendo-se o status quo, haja vista que a escola ainda é um dos mais
importantes aparelhos ideológicos do Estado, e esse papel vem sendo muito bem
desenvolvido, tendo em vista que formamos indivíduos “acríticos” ao sistema
vigente, pois muito do que os indivíduos e as coletividades pensam, sentem,
imaginam ou fazem relaciona-se direta e indiretamente com a lógica do modo de
produção capitalista desenvolvida em âmbito local, nacional, regional e
mundial. Como já apontava Marx; Engels (1989), que os homens são produzidos,
envoltos pelo modo de produção capitalista. Portanto, para Marx e Engels (1989,
p. 37) “[...] não é a consciência dos homens que determina o seu ser social;
mas o seu ser social é que determina sua consciência”.
Como eixo norteador de sua prática pedagógica,
Freire (1992, p.38), defende que "formar" é muito mais que formar o
ser humano em suas destrezas, atentando para a necessidade de formação ética
dos educadores, conscientizando-os sobre a importância de estimular os
educandos a uma reflexão crítica da realidade vivida.
Destaca-se que na Pedagogia
Progressista as temáticas de estudo são escolhidas basicamente em duas fontes.
Na Sociologia, por exemplo, uma primeira fonte é o cotidiano dos alunos e suas
problemáticas: violência, educação, mercado de trabalho, etc. Outra fonte é
constituída pelas temáticas que interessam aos estudantes tais como: indústria
cultural, diferenças raciais, consumismo, entre outros. Para isso, o professor
deve atuar como mediador. A Pedagogia Progressista dá primazia aos conteúdos,
mas não se resume a eles. É o seu ponto de partida, é de onde se definem os
seus métodos. Sua metodologia é concebida a partir da teoria do conhecimento
marxista, pela dialética materialista, pelo movimento de continuidade e
ruptura. Parte-se da necessidade e aspirações dos alunos, de sua realidade,
para então realizar as rupturas, sair do imediato e chegar ao teórico, ao
abstrato; e depois retornar ao real com uma nova visão que possibilita uma nova
ação sobre ele.
A pesquisa é geradora de questões
novas e um tema bem elaborado contribuirá significativamente para que os alunos
se defrontem com os conhecimentos científicos como instrumentos culturais para
entendimento da realidade, relacionando a teoria sociológica com o cotidiano. É
sempre importante analisar práticas pedagógicas tradicionais e alternativas
debater sobre os limites e as possibilidades.
A colaboração entre educador e
estudante em um sistema aberto e colaborativo em um esforço de construção
coletiva, coordenada e continuada tem como finalidade o aprimoramento do ensino
e a valorização da construção dos saberes coletivos, objetivado pela
possibilidade de interação e compartilhar informações (BEHRENS, 2005).
Para um professor realizar o trabalho
dentro de uma sala de aula, ele precisa possuir o conhecimento sobre o tema a
ser trabalhado, selecionar bibliografias, preparar antecipadamente as aulas e
pensar método de ensino a ser aplicado. É fundamental a adoção de múltiplos
instrumentos metodológicos, os quais devem adequar-se aos objetivos
pretendidos, seja a exposição, a leitura e esclarecimento do significado dos
conceitos e da lógica dos textos, a análise, a discussão, a pesquisa de campo e
bibliografia ou outros. É importante que o professor não leve ao aluno uma
interpretação fechada, e sim, os relatos, os dados pertinentes para o
conhecimento.
Os temas estão inseridos na realidade
das pessoas, são oriundos de debates sociais. Fazemos parte da história local,
nacional e universal. O homem é estabelecido na relação social, o conhecimento
do aluno é uma vantagem, porém ele é limitado. A sociedade não se opõe ao
indivíduo, pelo contrário, ela existe subjetivamente no indivíduo, os próprios
professores constantemente reproduzem e reafirmam os preconceitos e estereótipos
sobre a sua profissão e atuação, reproduzem uma realidade que aparentemente se
nega (FREIRE, 1981, p. 15-25).
Ao pensar especificamente nos alunos,
muitas vezes esses vêem de famílias carentes e não possuem um referencial na
família a respeito de uma sólida educação, o que não quer em nenhum momento
dizer que eles não tenham potencial, pelo contrário, muitas vezes precisam
apenas de oportunidades, que lhes são geralmente negadas. É evidente que nestes
locais surgem alunos que conseguem vencer nos vestibulares, porém este número é
muito inferior ao que se pode considerar como um índice satisfatório. Aliado a
isto, as escolas são permeadas de medidas burocráticas de todo o tipo, que
inviabilizam uma alternativa ao ensino tecnicista, ou a busca de novos métodos.
O pensamento de que as aulas
tradicionais são tediosas e desnecessárias, se faz presente entre a maioria dos
alunos. O imediatismo presente no pensamento da maioria é visivelmente exposto.
Certa vez no nosso período de estágio num colégio estadual da região central de
Maringá/PR , em determinada aula expositiva, uma professora propôs um trabalho
sobre orientação vocacional, um aluno a questiona sobre o porquê do trabalho se
o vestibular já havia passado. Outra preocupação é de que o professor focalize
somente o vestibular deixando de lado reflexões sobre o espaço social vivido,
mas se alunos e professores não parecem estar preocupados nem com o vestibular,
é possível supor que estas discussões são ainda mais marginalizadas nas salas
de aula.
Sendo assim, ao pensar na realidade
dos alunos, para eles, diante do peso que é o vestibular, é mais importante uma
matéria que seja recorrente e caia nos exames, do que mais uma nova experiência
de ensino que pode dar certo ou não.
Porém, as instituições de ensino
brasileiras não devem cair na armadilha de pautar o vestibular como única
referência de qualidade e eficiência em educação. O ensino não deve ser pensado
como mercadoria, serviço ou sinônimo de status.
Octávio Ianni (1985) estabelece que o
problema preliminar que se coloca no trabalho do professor é procurar mobilizar
o conhecimento que o aluno já dispõe, e, ao mesmo tempo, procurar levá-lo a
novos horizontes. Seria uma ingenuidade acreditar que os alunos não sabem nada
sobre a realidade a qual pertence. Os meios de comunicação informam as pessoas
dos mais variados temas, apesar de muitas vezes reproduzirem o conhecimento do
senso comum. Além disso, os temas trabalhados pelos sociólogos muitas vezes
fazem parte do universo cotidiano de todos. O professor deve trabalhar fatos,
dados e relações, sem por em questão autoridades como famílias, crenças e
religiões. Segundo Ianni (1985) “Precisa trabalhar a partir do conteúdo da
matéria e não colocar em questão essas autoridades, porque isso seria evidentemente
uma tarefa muito desigual e não é aí que está o problema”.
Conlusões
Como constatado, é desanimador o
quadro atual da educação brasileira. A profissão do professor está sendo
bastante menosprezada no país. Mas é preciso continuar na luta pedagógica. Como
futuros sociólogos apontamos que um primeiro passo é problematizar os fatos
sociais, pois a partir do momento que refletimos e dialogamos sobre eles,
muitas das dificuldades enfrentadas na educação, podem sair do plano da
constatação. Se nos calarmos, se pararmos de reivindicar, perderemos mesmo o
pouco reconhecimento que a educação ainda possui. Por isso temos que ampliar a
discussão para que a educação tenha maior espaço e melhores condições dentro da
sociedade brasileira.
O homem não está alheio ao seu tempo
histórico, o agente não constrói individualmente a si mesmo, por isso devemos
produzir uma reflexão da realidade como um todo. Neste contexto em que o
ideário neoliberal incorpora, dentre outras, a categoria de autonomia, é
preciso também atentar para a força de seu discurso ideológico e para as
inversões que podem operar no pensamento e na prática social ao estimular o
individualismo e a competição. Sendo assim, para propor mudanças é preciso uma
prática de vigilância constante e contínua contra toda e qualquer prática de
desumanização. Não é possível ao sujeito ético viver sem estar permanentemente
exposto a transgressão da ética, temos então de aprender a fazer uma
auto-reflexão crítica permanente. Como pondera Freire (2000, p. 23): “A
Histórica é um tempo de possibilidades e não de determinação”.
Ensinar requer a plena convicção de
que a transformação é possível porque a história deve ser encarada como uma
possibilidade e não como um determinismo moldado, pronto e inalterável. Para
isso é preciso desnaturalizar, tornar evidente as contradições e fazer este
exercício de estranhamento é um dado decisivo no processo de conhecimento de
nossa própria cultura. O educador não pode ver a prática educativa como algo
sem importância, ao contrário, ele deve sempre perseguir um constante processo
de reafirmação dos valores da educação. O educador não deve barrar a
curiosidade do aluno, pois é de fundamental relevância o incentivo à sua
imaginação, intuição, senso investigativo, enfim, sua capacidade de ir além.
Conhecimento é poder, poder de questionar os discursos dominantes.
As tendências pedagógicas não são
inatas, são oriundos de conflitos e debates, das contradições sociais, são
originadas num determinado momento histórico, tendo que durante a sua
trajetória aperfeiçoá-las ou mesmo substituí-las, são as relações sociais que
constituem o ser social em qualquer contexto. A estrutura social está sempre em
movimento, que se desdobra e se especifica, se revela em relações, processos e
estruturas. A sociedade não está dada e pronta e definitiva. Para alguns interessa
que ela se mantenha como está, para outros, há o desejo que ela se modifique.
Nas palavras de Bourdieu (1997, p. 20): “Apenas conhecendo as leis específicas
do campo é que podemos compreender as mudanças nas relações entre os agentes”.
É necessário reduzir a distância
entre o que se diz e o que se faz de forma que a fala seja o reflexo da
prática, enfatizamos que as teorias são importantes, no entanto cabe ao
professor construir sua didática, embasado nelas, lembrando que elas são
elementos norteadores e não "receitas" prontas. Freire (1997) nos
provoca continuamente a sermos coerentes em nossas atitudes.
A leitura de Freire (1997) nos
inspira na busca de uma educação pautada no respeito humano que na partilha de
saberes possa construir novas idéias, ampliar e refutar saberes antigos.
Deve-se enxergar em meio às contradições de um sistema de ensino desigual e
injusto, alternativas para a superação, pois assim, criaremos condições de
emancipação. Não existe uma solução única e simples para resolver os problemas
educacionais. Faz-se necessário problematizar nossas questões no sentido de não
esconder ou camuflar as diferenças, de não aceitar o consolo da falsa
consciência. Deve-se procurar o conhecimento sobre a experiência concreta do
vivido, nas práticas culturais de determinada sociedade; na formalização dessa
prática em produtos simbólicos; nas estruturas sociais que influenciam a foram
de ser da educação.
A prática educativa é um constante
exercício em favor da construção e do desenvolvimento da autonomia de
professores e alunos, não obstante transmitindo saberes, mas debatendo
significados, construindo e redescobrindo os mesmos, pois temos a necessidade
de aprender e também de ensinar, intervir e conhecer. Construir uma nova
sociedade pode ser também
construir novas relações e consciências.
Autores: Júlio César Lourenço e
Verônica Yurika Mori
2 comentários:
Olá, Edson
Gostei muito !!!
Será que vc poderia fazer um post sobre a Pedagogia Histórico Crítica - Demerval Saviane
Saviani dono dos meus pesadelos !!! Rsrs
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